domingo, 1 de março de 2009

Vandalismo.

Naquela manhã, o silêncio dormente foi interrompido pela campainha da porta do prédio. Porém, "Oh, alguém vai lá..." e não tive de abandonar o meu leito de quentinho aconchego.
Entregando-me de novo à preguiça, começo a ouvir a minha mãe a soluçar, o meu pai a andar freneticamente de um lado para o outro e o meu irmão a bater com o punho cerrado em cima da mesa e a falar alto e atabalhoadamente. "Ups, acho que é melhor ir ver o que se passa!", pensei eu, de coração aos saltos, a bater tão fortemente que quase o sentia na planta dos pés enquanto caminhava descalça até às pantufas arrumadinhas.
- O que se passa? Que aconteceu?
- Roubaram-nos o carro.
- Mas qual carro? - O pai respondeu desviando a cortina da janela da cozinha que dá para as traseiras do prédio, onde todos os inquilinos estacionam os respectivos automóveis. Parecia-me bem, intacto. - Mas pai, que tem o carro? Está no sítio...
- Partiram o vidro do lado do condutor. Não se vê daí... - tirou-me as dúvidas, o meu irmão.
- E não foi só o nosso: mais três carros deste estacionamento e dois da rua ali em cima. - acrescentou o pai.
- Porquê? E para quê? Estas pessoas só estão bem a prejudicar os outros! - foi dizendo a mãe, entre soluços de nervosismo.
A conversa familiar foi interrompida pelo barulho de pessoas e de um carro a chegar, lá nas traseiras. Era a polícia! "Oh, eu ainda estou de pijama..." e fiquei a ver da marquise.

Visto de cima, este reconhecimento dos acontecimentos revela-se realmente estúpido! Três sujeitos da autoridade fardados caminham à pinguim com as mãos nos bolsos; mais duas ou três pessoas por carro sinistrado, que abrem porta de um lado, entram do outro, remexem documentos e se perdem por entre gesticulações enquanto barafustam, sabe-se lá para quem; acrescentam-se uns curiosos que não têm nada a ver com o assunto, mas que foram alertados pelo barulho de gente naquela zona.

Resultado? Não roubaram nada de especial, estes seres vândalos que destroem intencionalmente bens e propriedades alheios; mas foram capazes de levantar umas 15 pessoas às 8h da manhã de um domingo e fazer com que aquela gente, mesmo vizinhos que mal se dão, falassem solidários uns com os outros, pelo menos durante 15 minutos.

24 comentários:

Anónimo disse...

Pois, realmente é incrível, cada vez mais, o mundo onde existimos...

Passei perto da tua rua por volta das 23 por 2 vezes e ouvi alarmes de carro, vi tambem um grupo de putos a irem em direcção á póvoa, quem sabe...

Mas antes um vidro partido do que um carro roubado...

Enfim, o mundo hoje em dia é inseguro e pouco se pode fazer para contrariar isso, a não ser que voltassemos ao pré 25 de Abril, onde existia um policia a cada esquina e onde as regras de intervenção policial intimidavam mais esses delinquentes sem neurónios.

Enfim...não sei que mais dizer...


Beijokas

Lita disse...

É terrível. Uma vez assaltaram-me o carro e partiram uma fechadura para roubar um auricular. Não é nada normal....mesmo!
Beijinhos

Príncipe Myshkin disse...

O que mais me impressiona nestes casos é a falta de sentido da violência. Os jovens dos subúrbios, em Paris, em 2005, por exemplo, destruíram vários carros (e não só), mas essa era a sua forma de protestar. Podemos, naturalmente, discordar do método, mas é - se me permites dizê-lo (isto parace quase bárbaro) - reconfortante saber que o fazem por algo maior.
O que realmente me faz confusão nesta vandalismo que descreves é que ele não procura alcançar nada, a não ser uma estranho, e para mim incompreensível, diversão no acto de prejudicar o outro, as pessoas à nossa volta. É que já nem sequer há raiva: apenas um profundo gozo na destruição enquanto destruição; a destruição como fim em si mesma.
Confesso que não sei como explicar o fenómeno. Sei que manifesta apenas a falência das estruturas mais básicas e fundamentais de uma sociedade, desde a família até à escola. Deixo-te, a propósito disto, o link para um videoclip dos 'Justice' que (re)trata precisamente o tema, uma espécie, como lhe chamaram na altura em que saiu, de 'Laranja Mecânica' moderna: http://www.youtube.com/watch?v=gqmgkeMwtHI .

Anónimo disse...

Pelo menos os visinhos socializaram... e sabes, tenho medo, vou vivendo a pensar nesse medo, no medo que é a multiplicação da prodridão que rege o mundo em que vivemos!

Mas ainda vão sobrevivendo algumas pessoas pelas quais vale a pena sonhar, acordar e respirar... parar e pensar!

Beijinho *

Anónimo disse...

Pelo menos os visinhos socializaram... e sabes, tenho medo, vou vivendo a pensar nesse medo, no medo que é a multiplicação da prodridão que rege o mundo em que vivemos!

Mas ainda vão sobrevivendo algumas pessoas pelas quais vale a pena sonhar, acordar e respirar... parar e pensar!

Beijinho *

Anónimo disse...

Pelo menos os visinhos socializaram... e sabes, tenho medo, vou vivendo a pensar nesse medo, no medo que é a multiplicação da prodridão que rege o mundo em que vivemos!

Mas ainda vão sobrevivendo algumas pessoas pelas quais vale a pena sonhar, acordar e respirar... parar e pensar!

Beijinho *

Anónimo disse...

Isto anda mal por todo o lado...é terrível...mas apesar de tudo...mais valeu um vidro partido que um carro roubado...
Beijocas grandes e boa semana

Ana disse...

A mim já me levaram o carro uma vez e garanto-te... é uma sensação horrível. Felizmente, encontraram-no abandonado 1 semana depois e em bom estado.
No entanto, e sendo meu carro muito fácil de abrir, não é a 1ª, nem 2ª, nem 3ª vez que encontro tudo aberto e revirado. E estou sempre á espera do pior... ainda por cima quando ando sozinha ás tantas da noite, estou sempre a pensar que qualquer dia é dia.

Mi disse...

Miguel Serra, pré-25 de Abril não, ok? He he...
Enfim, não me aterrorizou.

Beijinho!

Mi disse...

Lita, um auricular muito avançado, não foi? Enfim, não se compreende.

Beijinhos!

Mi disse...

Príncipe Myshkin, é verdade, um vandalismo sem causa, isso é que é bárbaro!

Tenho saudades tuas, amigo.

Mi disse...

JFX, é verdade, a socialização dos vizinhos... É sempre positivo!
Viver com medo é que não! É preciso acreditar.

Beijo.

Mi disse...

Olha por Mim, não é muito agradável, não... Mas é melhor ainda do que alguém se ter magoado!

Beijinho enorme!

Mi disse...

Ana, sentirmos algo nosso a ser levado por outrem é mesmo uma sensação desagradável, ainda pior do que sentir que alguém estragou algo nosso... não sei porquê!
Epá, mas carros assim não são lá muito bons, não!

João disse...

Ainda bem que não foi nada mais grave.

Quando é nestas situações, as pessoas, conheçam-se ou não, normalmente colaboram sempre.
Toda a gente pensa no que é que deveria ser feito com estes vandalozecos de m*rda que para aí andam, mas poucos o assumem, porque é politicamente incorrecto.
Era correr com eles todos...

Anónimo disse...

Simplesmente horrível ... mas é a juventude que temos e isto é uma amostra dos delinquentes que andamos a formar (atenção a todos os pais, façam o vosso papel). O que me preocupa mais é que muitos destes delinquentes têm noção do que estão a fazer e do prejuízo que estão a dar e mesmo assim fazem-no, onde está o trabalho parental, a crítica, o castigo, a punição (viva a impunidade) [Se Ministros roubam milhões e nada acontece porque não havemos nós de partir uns vidros]. É horrível mas temos de saber viver neste mundo e acreditar sempre que no futuro um destes jovens tome juízo e se aventure nos meandros da justiça e da interacção e integração social para perceber a barbaridade que fez.
<3
Bjao gigante

Anónimo disse...

Acho que assim resolveria parte do problema, mas claro, era uma altura complicada. É mesmo triste saber que estas coisas acontecem por razão nenhuma, apenas por divertimento.

Beijokas, feliz aniversário!

Mi disse...

João, é a solidariedade... sim, toda a gente colabora.
Agora, correr com eles todos? De que forma?

Mi disse...

Gato, continuo a acreditar muito mais que tu... mas tu continuas a ser o sr. Psicólogo!

Mi disse...

Miguel Serra, eu acho que acontecem por alguma razão, talvez por mais até do que imaginamos!

Obrigada!

Anónimo disse...

Acontece pelo que o "principe mishkin" dixe ali em cima...apenas pelo gozo, senão não se tinham ficado apenas por ali né?

Bjks

João disse...

Se calhar matá-los a todos é muito extremo, portanto podiam começar a pensar em deixá-los mesmo presos com boas penas, em vez de os mandarem cá para fora, com apresentações periódicas. Vão-me dizer que é por isso que não vão fazer mais porcaria...
Isto os que são apanhados, claro.

Mi disse...

João, o teu extremismo quase me assustou!

Mi disse...

Miguel Serra, pois, não sei... talvez.