quarta-feira, 4 de março de 2009

Duas Décadas.

Aos cinco minutos do dia 3 de Março de 1989...


Nasci. Berrei. Esperneei e esbracejei. Chorei. Pestanejei muito depressa. Descobri a luz, a cor, o contraste, o movimento, a forma, o som, o cheiro. Fui descobrindo o mundo. Criei os primeiros laços. Fui feliz. Fui bebé.

Vivi a infância. Autonomizei-me um pouco. Observei, perguntei, compreendi. Aprendi muito. Fui à escola. Parti o queixo e o sobrolho. Fiz asneiras. Chorei quando vi o Pai Natal. Socializei. Senti saudades de alguém. Comecei a praticar natação e basquetebol. Fui maria-rapaz. Brinquei com os meus irmãos. Passeei pelo país em família. Experimentei um congresso internacional em Itália. Fui feliz. Fui criança.

Atravessei a puberdade. Julguei-me auto-suficiente. Perdi-me. Pensei, reflecti, teorizei. Procurei-me. Fechei-me em mim. Escrevi muito. Descobri as imperfeições familiares. Carreguei problemas difíceis, resolvi embrulhadas complicadas. Guardei segredos. Fui estimada por todos. Fui admirada. Quis fugir, mas fiquei. Engoli e sorri. Reencontrei-me e recomecei. Entreguei-me ao desporto. Cresci no meio do basquetebol, fui campeã e capitã. Encontrei o estilo de vida que queria, defini valores-base. Conheci pessoas para a vida. Construí relacionamentos. Viajei pelo centro-norte do país. Fui a França à Disneyland. Fui a mais congressos internacionais em Itália. Fui feliz. Fui adolescente.

Entrei na juventude. Recomecei com verdadeiras mudanças, do interior para o exterior. Conheci o meu lado inconstante. Redefini-me. Procurei a coerência de princípios. Melhorei-me na doação aos outros, tornei-me boa a estabelecer relacionamentos verdadeiros. Fui ao céu com um namoro e aterrei firmemente no solo uns tempos depois. Fui forte. Fracturei o nariz e sofri pelo período de reestabelecimento. Descobri um problema na articulação da anca e penei por me despedir do desporto. Não desisti, mas aceitei. Cresci e estudei, trabalhei em part-time e tirei a carta de condução. Reestruturei prioridades. Viajei até ao Luxemburgo de carro, por espanha e frança. Experiências fortes de família. Fui feliz. Fui jovem.

Cumprimentei a idade adulta. Perdi pessoas e ganhei em dobro ou triplo, com outras pessoas. Aprendi esse custoso ciclo da vida. Descobri a vida académica. Senti o sabor amargo da auto-desilusão misturada com derrota pessoal. Não consegui e desisti e decidi mudar. Recandidatei-me. Despedi-me de relacionamentos de um ano estupendos. Recuperei milagrosamente o desporto e retomei com moderação. Iniciei-me na bateria de um conjunto musical. Subi ao palco, em unidade. Entreguei-me precocemente e mudanças levaram a um fim. Ia caindo para o lado de incredulidade. Recomecei mais forte ainda. Reforcei as linhas de conduta da minha vida. Fiz uma escola de formação internacional em Itália. Fui a Praga, na República Checa. Fui a Inglaterra. Fui monitora de uma colónia de férias. Quis emancipar-me, mas redescobri a família. Fui passar o Natal a Barcelona. Recuperei contactos perdidos com o tempo. Fui feliz. Comecei a ser adulta.


A 5 minutos após o final do dia 3 de Março de 2009, completas as duas décadas de existência mais um dia...
. assinalo o re- de "recomeçar" cada vez mais frequente e imediato,
. maravilho-me com o "descobrir" constante e intemporal,
. reconheço a exponencialmente positiva de importância dos relacionamentos verdadeiros na minha vida, não mencionando nomes, pois perder-me-ia,
. estou certa que há algo que se manterá, o "Fui feliz.", eu sou feliz.

Já sou grande? Hei-de ser.