Estou no meu quarto. Sentada em cima da cama, pernas cruzadas e portátil pousado sobre estas. Mantenho uma luz fraca acesa, como se fosse uma luz de presença que impede que o único denunciador d'A-Mi-Ainda-Acordada seja o som dos dedos a pressionar as teclas.
O barulho das pingas a bater nos parapeitos simula um prolongamento suave da chuva; de resto, reina o silêncio, mas um silêncio... vazio.
Olhando à minha volta, o meu quarto parece-me... despido.
A minha secretária está incrivelmente arrumada e organizada porque pouco ou nada tem sobre ela, a não ser o candeeiro e umas latinhas com algumas canetas e outras coisas - que eu nem sei bem -; tudo o resto, ou levo comigo, ou mudou de lugar na profunda arrumação que tive de fazer antes de começar a pensar o que tinha de colocar na mala e o que podia deixar para trás.
Cinco meses; são só cinco meses e tenho aquela sensação de mudança, mas em vez dos caixotes de cartão cheios de coisas, tenho umas três malas empilhadas à beira da cabeceira da cama... e ainda muita coisa resta nas prateleiras, especialmente livros, bem como a guitarra que, apesar de estar arrumada e parecer pronta a partir, não me acompanhará na minha viagem - infelizmente.
Não fosse o limite de peso de bagagem e muito mais levaria, muito mais do meu quarto - o meu mundo -, como que reconstruído por uns meses noutro local geograficamente distante; mas há o limite.
Fotografias: levo algumas e aposto que receberei muitas mais enquanto estiver por lá - desde já, obrigada a todos os que contribuíram -; serão colocadas nas paredes, em molduras, até no tapete do rato e no porta-chaves... Porquê?
Porque são as pessoas que me fazem sentir no meu mundo. Não é o quarto, em si, os móveis ou assim que o tornam tão seguro, tão meu; mas as pessoas.
As pessoas que estão nas fotografias, as pessoas que me deram os peluches, as pessoas que me escreveram dedicatórias nos espelhos, as pessoas que me ofereceram uma bola de basquete ou um botão gigante de cartão, até as pessoas que me ajudaram a pintar a minha parede de cor-de-laranja, as pessoas que já aqui dormiram, as pessoas que já aqui se sentaram a conversar, as pessoas que já me fizeram perder a noção do tempo enquanto representavam papéis principais na minha mente... as pessoas.
O meu quarto, o meu mundo, a minha história, a minha pessoa... são as pessoas e são estas que eu levo - de qualquer das maneiras, esteja eu onde estiver - comigo, sempre.
Amanhã não será excepção: preparem-se para o frio que amanhã também viajam para a Polónia.